A voz de Jau tem cor. É preta e vem do Olodum, da Bahia, da África, do Mundo. A voz de Jau tem sabor, é doce como a cana-de-açúcar, flambada na cachaça pura dos engenhos do nordeste. A voz de Jau tem luz, uma luz profana e sagrada, abençoada por Deus e respeitada por todos que fazem da música a sua profissão.
Uma voz que chega, para no ar, invade as ruas, ecoa nas ladeiras e conquista Roma.
A voz de Jau tem poder.
Menino moleque, nascido no Rio Vermelho em 27 de setembro de 1969, com a benção de São Cosme e São Damião. Criado entre 14 mulheres, Jauperi Lázaro é a afirmação de que a música baiana é a música mais pop do Brasil. Suas composições, interpretadas por ele e vários artistas, ensinam a entender a nova Bahia - uma Bahia que não quer perder seu passado, mas não se admite em outro lugar que não seja o Topo do Mundo. Emprestando essa sua voz para projetos como a trilha sonora do filme Ó Paí, Ó, ao lado de Caetano Veloso, Jau se firma também como um cantor baiano que passeia pelo universo do cinema brasileiro, esta outra arte que avassala e surpreende o mundo...como, aliás , a voz de Jau.
A voz de Jau tem pele, tem sangue e pulsa. Ela sangra a canção e a dor vira beleza. Uma voz que tem textura, é líquida e chove sobre nossos rostos num dia de verão.
Então, por favor, silêncio que a voz de Jau vai passar...
*Texto: Gerson Guimarães.